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Mostrando postagens de julho, 2015

TEXTO INTIMISTA: VESTES, VESTIDOS, VASTAS SENSAÇÕES

Maria Júlia Povoado de babados azuis, sianinhas, plissados, confeccionado pela minha querida madrinha, o vestido era de organdi rosa e me fazia parecer um pudim de romã ou um bolo confeitado para festa junina. Nada tinha a ver comigo. Aos dez anos de idade, eu achava que merecia algo menos infantil. Mas não ousei rejeitá-lo e com ele compareci, toda emperiquitada de sapatos e bolsas cor de rosa, ao casamento de uma prima. Creio que foi a partir daí que passei a desdenhar o costume de vestirem as meninas de cor de rosa, bem como certas imposições da moda que, nos vêm, em geral, dos grands couturiers. À propósito, implico também com a profissão de modelo, com a prescrita anorexia das moças, as caras, caretas e bocas que ostentam na passarela. Existirá algo mais artificial? Eu admirava, isso sim, os vestidos das minhas tias, feitos pelas costureiras que iam lá em casa medir, provar, opinar. Lindos godês, cinturas definidas, golas grandes , mangas curtas, estampados delicados,

CRIME SEM CASTIGO

Jurandir de Oliveira Objetos muitas vezes inesperados adquirem importância em nossas vidas para com o tempo acabarem esquecidos no fundo de um armário. Não quero entrar no porquê, mas houve uma época em que eu estava decidido a conseguir um molde para confeccionar chapéus. Eram os anos 80 e as poucas chapelarias que não haviam fechado, emanavam, faz muito, aquele ar de anacronismo e de abandono. O fato que eu quero narrar aconteceu num lugar assim. Uma lojinha no Largo do Machado, Rio de Janeiro. Olhando pela vitrina empoeirada, via-se em primeiro plano, alguns modelos de chapéus antiquados, em cores que teríamos que imaginar, subtraindo o efeito do tempo e do sol implacável. Nas prateleiras internas da loja, uma camada suave de poeira, dava a alguns modelos, vistos desde onde eu estava, uma aparência aveludada. Outros elementos como uns poucos bibelôs , um espelho bisotado e flores de seda, compunham esse melancólico acervo. Desviando o olhar para o fundo da loja, numa

SOBRE ESMALTES E O FUTURO

Vaneska M. O mês começa influenciado pela Lua Cheia em Capricórnio, que chega unida em ótimo aspecto com Plutão, indicando grandes mudanças e transformações. Ela entrou novamente naquela fase de pintar as unhas todos os dias. Maus presságios. Unhas vermelhas num dia, rosas no outro e então uma mal acabada francesinha. Isso sempre significava a mesma coisa: tudo precisava mudar. Foi assim aos 15, repetiu-se aos 26. Foi só lá pelos 32 que aprendeu a fazer as malditas francesinhas. Agora aos 47 colecionava tons de nude compulsivamente. A vida era um tédio. Os filhos estavam longe. O dinheiro era pouco, o afeto era pouco. A paixão era uma dúvida e sempre perda de tempo. Leu, anotado em seus alfarrábios, o aforismo de Arthur Schopenhauer: "Os primeiros quarenta anos de vida dão-nos o texto, os trinta seguintes, o comentário." Seu texto não estava completo, estava longe disso. O filósofo, porém, a sentenciara ao fim. Seu texto, na verdade um mal elaborado rascunho, só estari

EM CASO DE DÚVIDA, CONSULTE O SEU CORAÇÃO

Ana Paula Cruz Leila é uma linda mulher na faixa dos 35 anos, bem sucedida profissionalmente e financeiramente. Conseguiu conquistar sua independência financeira ainda bem jovem, ao custo de muito trabalho e estudo. Ela tem quase tudo que as mulheres de sua idade almejam: casa própria, carro zero e um guarda roupa de dar inveja a qualquer uma. Porém, muitas vezes ela precisa disfarçar sua frustração quando percebe que todas as suas amigas estão se casando e ela sequer tem um namorado para dividir a pipoca durante a sessão de cinema. Pensa consigo mesma: será que há algo errado comigo? Porquê meus romances não dão certo? No fundo, ela sempre acalentou o sonho de se casar de véu e grinalda na igreja e de ter filhos.  Nos fins de semana, ela costuma sair com as amigas para beber uma cerveja, relaxar e dançar. Conhece vários caras, beijas alguns e outros ela faz questão de dispensar assim que percebe o flerte. Sua angústia aumenta quando ela tem de voltar sozinha para casa. No