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Mostrando postagens de março, 2015

DOMINGO NO PARQUE

Leny Fontenelle Um misto de ansiedade,  perplexidade e também de constrangimento. Assim foi uma de suas idas ao antigo Tivoli Parque, situado às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, acompanhada por seu pai.  Sempre fora um pouco medrosa em relação a certo tipo de diversão. Altura, velocidade...nada disso a atraía de forma particularmente prazerosa. Em um passado bem mais recente, conduzindo os filhos pequenos nos inúmeros parques aquáticos, montanhas russas e simuladores “da vida”, a sensação dos tempos de infância ainda a perseguia e dividida ela ficava entre o prazer da companhia deles, divertidos e encantados e a tensão de encarar aqueles desafios. Feitas essas considerações, retrocedamos aos tempos do Tivoli da sua infância. Foi lá que seu pai protagonizou cenas inesquecíveis, das quais foi testemunha ocular. Andar de carrinho “bate-bate” pode ser uma experiência divertida para a maioria das crianças. Mas ter como parceiro de aventura um adulto de compleição grand

AMNÉSIA

Ana Paula dos Santos Cruz Solange é uma típica mulher de meia idade, recém-separada ela só pensa em se divertir e curtir a vida. Rejeita a todo o custo o título de senhora, não revela a sua verdadeira idade nem ao pároco de sua igreja. Ela própria se define como: “uma piriguete quase aposentada”.  Não aceitar que a idade chegou, e que o passar dos anos nos traz uma serie de limitações já lhe colocou em situações embaraçosas! Certa vez, essa criatura em questão sabia que seu exame de tireoide estava marcado para o dia 11 de janeiro, porém a confusa senhora resolveu olhar a sua bagunçada agenda e percebeu que anotara o referido exame para o dia 10.  Ficou em dúvida, mas resolveu ir ao centro medico mesmo assim. Acordou cedo, tomou seu banho e cumpriu todo o seu ritual matinal. A mulher partiu para o centro médico toda serelepe! Chegou à fila, se apresentou e pegou a senha. Conversava com a recepcionista amigavelmente quando de repente seu celular toca. - Quem será? Pensava a senh

ADORO VIAJAR, ODEIO TURISMO

Vaneska Mello Há pessoas, geralmente incompreendidas, que não gostam de viajar. Se estressam com preparativos. Têm grande apego às suas rotinas. Estão satisfeitas com o que já conhecem. Entendo perfeitamente esses seres do fundo de seus sofás. Mas não sou um deles. Eu adoro viajar, o que odeio, hoje e cada vez mais é o turismo. É certo que a distinção entre o turista e o viajante que aqui apresento não é científica. É só fruto caído de minhas impressões. Por isso não tem pretensão de verdade ou convencimento. O turista tem roteiros e lugares imperdíveis a visitar. O viajante tem liberdade e lugares que sonhou conhecer. O “é imperdível”, ou o “como assim você não esteve lá” o oprimem sobremaneira. Impõem obrigações. As multidões, as filas e os atropelos em nada são compatíveis com o que entende por lazer e prazer. É um preço alto demais, que só paga por um desejo muito pessoal. Viajantes estão mais focados no prazer da experiência do que no registro. Não fosse bastante

AFINAL, O QUE É O AMOR?

Sonia Andrade Dias destes assisti a um vídeo em que crianças entre quatro e oito anos eram entrevistadas e tinham que responder à pergunta: o que é o amor? A pesquisa foi feita nos EUA por um grupo de profissionais e as respostas que elas deram para essa simples pergunta foram diferentes e profundas, o que nos leva a refletir sobre o que os adultos pensam desse e de outros assuntos importantes. Um garoto definiu amor verdadeiro como uma coisa misteriosa que envolve admiração, amizade e felicidade. Outros disseram que é algo que aquece a alma, afasta a solidão, contato olho no olho, coração acelerado, a melhor coisa do mundo, que é importante falar para o outro que o ama, mas só quando o sentimento for verdadeiro. Alguns responderam com pura poesia, “quando se ama, os cílios batem sem parar e você vê estrelinhas”. Mas, uma das respostas mais impressionantes foi a de uma garota de seis anos que disse que para aprender a amar melhor, a gente devia começar gostando de alguém que se od

COTIDIANO

Lia Cora Passou a ser seu segredo. Trajeto para o mercado, ela dava um jeito de ficar ali parada, aproveitando o sinal fechado. Olhava disfarçadamente para o canteiro, com o coração aos pulos. Será que ainda estaria ali? Estava! Ficava encantada e tão feliz... Se alguém percebesse sua descoberta, ela já sabia o que aconteceria. Por isso passou até a sair de óculos escuros, para disfarçar melhor a direção do seu olhar. Lembrou da 1a vez. Caminhava rápido - tinha muitos afazeres. Represou a pressa e teve que parar junto à calçada porque o sinal fechara. Foi quando olhou pro lado e reparou que, naquele canteiro da Prefeitura, as plantas estavam muito crescidas e abundantes. Seu olhar percorreu a parte mais escondida, daquele emaranhado de arbustos. Havia tipo uma clareira, formando um espaço côncavo. Mais curiosa, vasculhou seu interior e ficou pasma com o que viu. E olhou logo para o outro lado, para não chamar atenção. Foi pra casa, pensando em como podia, naquele canteiro visivelment

PALAVRAS

Elisa Maria Rodrigues Sharland Levamos algum tempo, ao longo da vida para aprendermos, primeiro o seu significado, já que são tantas e tão diferentes. E depois, para repeti-las, com a intenção de podermos nos comunicar plenamente. As palavras são sempre um desafio. Tanto para aqueles que as falam como para quem as escreve e mesmo para aqueles que as lê. As palavras são meio de expressão ou, às vezes confusão. São tantos significados, tons, nuances e intenções, que um texto, ou uma conversa, podem acabar parecendo uma tela onde cada um que as vê ou ouve, tem uma diferente impressão, formando matizes de diferentes cores, sensações e sentidos. Fazem parte dessa tela as palavras ditas e aquelas não ditas. Longas ou curtas, Leves ou pesadas, Amorosas ou rancorosas, Doces ou amargas, Explícitas ou insinuantes, Tristes ou alegres, Engraçadas ou sem graça nenhuma... Na expressão daquilo que às vezes pensamos e não dizemos ou, que dizemos sem pensar, ou ainda que, simplesmente pensa

MÚSICA

Julia V   Já cansei, um náufrago Já dancei, um blues Desenganei num Sábado Engasguei e fui Já sonhei que estava Completamente nu Acordei calado Esqueci de tudo Agarrei um pássaro Já voei no azul Minha cabeça estava completamente zum Acordei num sábado Me lancei em tudo Fui rival de um náufrago Já pulei do topo Fui além de um Sábado Fui além de um blues Redescobri o náufrago Escolhi o azul (Nau frágil Blues ou Mepiramina e Associações)

SAUDADES

Angela Fleury O mundo está mudado. Não tenho muita certeza, mas tenho o sentimento de que em algum lugar no passado, tudo já foi mais fácil, mais previsível, mais fresco, mais calmo e mais lento. Vejo que hoje, o respeito, a compreensão, a gentileza, a compaixão, a esperança, a leveza são muitas vezes esquecidos. As pessoas são valorizadas pelo que têm e não pelo que são. Tudo é descartável, os carros, as roupas e os eletrodomésticos são feitos para serem trocados. Os namoros e os casamentos não são mais estáveis. As mulheres e os homens buscam uma difícil reinvenção de si mesmos. Não há mais um modelo a ser seguido, cada um, individualmente, tem que criar a sua maneira de viver e de ser feliz. Temos que conviver com nossas diferenças, nunca fomos tão diferentes. Não entendemos mais da previsão do tempo. O verão fica mais quente a cada ano e já não conseguimos olhar para o céu e acertar que roupa usar. Antes, se a temperatura aumentasse e o céu se enchesse de nuvens baixas podíam

SOBREVIVENTE

Eliana Gesteira Exausto, um caminhante senta em uma pedra para descansar, bebe um pouco d'água e passa as mãos nas costelas para enxugar o suor que escorria. Embora há muito tempo não ouvisse seu nome, o homem ficou feliz por ainda lembrar de uma voz de mulher chamando: “Ismael, Ismael”. Fecha os olhos e volta ao dia em que acordou no porão no qual trabalhava e onde percebeu, sem entender, que o mundo que conhecia havia acabado.  De volta ao presente viu com desgosto a nuvem de poeira fina que cobria tudo e que fazia desaparecer as formas e as cores ao seu redor.  Não estava claro para aquele homem o que havia ocorrido e nem o porquê de sua singular situação de único sobrevivente. Embora não pudesse afirmar com precisão a data em que estava, sabia que o ano devia ser o de 2028, pois observava diariamente o movimento das estrelas e do sol na tentativa de antever fenômenos naturais e manter-se vivo. Em suas contas haviam se passado cinco anos e ele teria então 44 anos de ida

A MÃO DE DEUS

Jurandir de Oliveira A translúcida folha flutua no lago bailando uma canção para a lua.  Flutua…e a brisa caprichosa, encrespa suas bordas tênues. A folha rodopia e todo o bosque parece envolvido nesse tema. De repente, pequenas gotas de chuva tornam o baile mais intenso. E o reflexo da lua se contorce por instantes, para logo voltar à sua forma original. Uma formiga, ilhada, mas sem sequer mudar de ritmo, se move na direção de outra folha, quando essas se tocam pelo efeito da brisa. Parece adivinhar cada passo do universo. Menos o do homem que, interpondo um dedo entre uma folha e outra, a faz mergulhar na escuridão do lago. Na luta da formiga por sobreviver, esperneia, buscando alguma folha onde agarrar-se, enquanto o homem divertido, a vê afundar pouco a pouco.

A CAIXA PRETA DA MEMÓRIA

Maria Júlia Abro novamente a caixa preta da memória, a portadora de reminiscências da infância e juventude, repleta de fitinhas, laços, bijuteria, velhas fotos, retalhos, objetos, coisas que me fazem recordar perfumes, comidas, sabores, música, festa, gestos, frases. Ditos e feitos de pessoas que já se foram.  As lembranças não aparecem em ordem cronológica nem são coesas. É que não há muita coerência na vida. O ser humano, dizem as más línguas, é um dos animais menos harmoniosos que habitam o planeta. Esse pensamento não pretende ser original, é apenas uma óbvia constatação do que se vê por aí.Pois bem, pode até não haver coerência, mas minha memória sabe selecionar.  Então, prefiro encaixotar só o que foi bom, doce, alegre, gostoso, engraçado. Lá dentro estão as lembranças de alguns tios - os tios e tias que tanto enfeitam a nossa infância. Os primos, alguns sapecas, outros sérios demais. Um ou outro professor, pois sempre houve um que ensinou e nos marcou. Sem falar no p