INTEMPÉRIES

Angela Fleury
            
Uma devastadora guerra civil na Síria parece estar cada dia mais longe de uma solução pacífica. Uma grande nuvem de incertezas paira sobre o céu do Mediterrâneo e seus arredores. A fragmentação do país é evidente. O mapa da guerra descreve a intensificação dos conflitos. A seita alauita de Bashar al-Assad controla a capital Damasco e a Costa do Mediterrâneo, o Estado Islâmico domina várias áreas sunitas ao Leste, outro grupos de rebeldes sunitas controlam áreas no Norte e no Sul e os drusos que até então prestavam lealdade ao governo já começam a pensar em autonomia. O país segue em direção à fragmentação e os efeitos esperados da guerra civil são preocupantes.
            
Não bastasse esse quadro dramático, que se apresenta por si só trágico e inquietante, tivemos essa semana um agravamento das ações russas no país, intensificado com a ampliação dos ataques aéreos. Os recentes bombardeios liderados por Putin levaram os Estados Unidos a considerar o uso da força para proteger grupos rebeldes treinados e equipados pelos americanos. A previsão é de que haja uma intensificação da tensão na região. Mais nuvens densas parecem se aproximar do céu, já bastante nublado, do Oriente Médio. Os últimos acontecimentos aumentam o grau de perigo na já turbulenta região. Os ataques aéreos deixam o clima ainda mais pesado aumentando assim a tensão mundial.
            
Mais da metade da população síria deixou o país desde o inicio da guerra. O deslocamento de uma grande massa humana que avança ao longo da costa mediterrânea em direção à Europa já apresenta consequências na temperatura politica-social dos Bálcãs. A previsão é a de que com a chegada do inverno e com as baixas temperaturas atmosféricas o deslocamento dos refugiados fique ainda mais dramático. Os que não puderam fugir por não terem condições financeiras para bancar o custo da imigração padecem no caos, a espera de ventos mais calmos e de uma solução que parece nunca chegar.

A guerra arrasou a economia e os empregos desapareceram, as aulas foram suspensas, os meios de transporte foram paralisados e as cidades se tornaram perigosas demais. Um rastro de destruição que ainda não conseguimos avaliar a sua total dimensão. Somente quando a grande tormenta passar será, ou não, possível entender as sequelas que ficaram e que devem deixar marcas profundas por várias e várias gerações.  Milhões de pessoas sem energia e sem transporte, pacientes evacuados de hospitais, milhares e milhares de mortos, cidades e pessoas devastadas, bilhões de dólares perdidos.
            
A guerra atinge o país com uma força arrasadora como se fosse um furacão. Como um desastre natural ela mata milhões de pessoas e causa prejuízos inimagináveis. Devasta tudo ao seu redor com uma intensidade sem precedentes. Pessoas e animais enfrentam a morte certa ou a fuga incerta. O que parece um enorme exagero ou mais uma narrativa sensacionalista, torna-se uma realidade, um furacão de alta magnitude que chegou sem nenhuma previsão meteorológica.               

  

Comentários

  1. Descrição precisa e impactante do turbilhão que envolve o Oriente Médio.

    ResponderExcluir
  2. Interessante o tema que vc.escolheu.Realmente aterrador é o que se passa no Oriente Médio, sem falar nas novas implicações geopolíticas que já estão pintando na região. Doeu a invasão em Palmyra, Aleppo e outros lugares que tive a oportunidade de visitar ano antes do conflito começar. Um das razões.para ler seu texto com muita atenção. Original e bem escrito, Angela..

    ResponderExcluir
  3. Mais um texto irretocável! A forma como foi organizado faz dele um texto fluído, apesar da temática tão densa.

    Muito original a forma de abordar o tema proposto: as tempestades que também se originam de uma força da natureza - os homens.


    Vaneska

    ResponderExcluir
  4. O seu texto de cunho jornalístico descreve o que o mundo todo está sentindo em relação a essa guerra, estupida como toda guerra. O problema é que apesar de impressionar, parece que não está se buscando de fato uma solução razoável para o conflito. Lamentável a estupidez humana.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Os mais rodopiantes!

A CAIXA PRETA DA MEMÓRIA

PELE

AINDA NÃO