Angela Fleury O que vivemos parece ser um teatro de infindáveis disputas, desobediências supremas, desafios e impedimentos. Afastamentos e aproximações suspeitas, operações deflagradas, soluções impossíveis, mobilizações e imobilizações, manifestações divergentes, substituições instáveis, ressalvas impróprias, adesões e decisões ocultas, perdas imediatas, deboches técnicos e institucionais. Paira no ar uma atmosfera poluída pelo descaramento, pela instabilidade e pela a mais federal incerteza. Montou-se um balcão, afirma a delação. Será que poderíamos pedir socorro à poesia? Ou seria à filosofia? Ou essa seria uma esperança ingênua? Qual seria o novo critério de conhecimento? Como poderíamos descobrir um novo modo de ação? Afastamento, silêncio, introspecção? Vivemos enormes rupturas, universais e pessoais, parece não haver no momento espaço para reconciliações poéticas. Até aonde o farol pode enxergar nada se vê. Alto mar, nenhuma terra à vista. Temperaturas altas e baixas...