ALTO MAR
Angela Fleury
O que vivemos parece ser um teatro de infindáveis disputas, desobediências supremas, desafios e impedimentos. Afastamentos e aproximações suspeitas, operações deflagradas, soluções impossíveis, mobilizações e imobilizações, manifestações divergentes, substituições instáveis, ressalvas impróprias, adesões e decisões ocultas, perdas imediatas, deboches técnicos e institucionais. Paira no ar uma atmosfera poluída pelo descaramento, pela instabilidade e pela a mais federal incerteza. Montou-se um balcão, afirma a delação.
Será que poderíamos pedir socorro à poesia? Ou seria à filosofia? Ou essa seria uma esperança ingênua? Qual seria o novo critério de conhecimento? Como poderíamos descobrir um novo modo de ação? Afastamento, silêncio, introspecção? Vivemos enormes rupturas, universais e pessoais, parece não haver no momento espaço para reconciliações poéticas. Até aonde o farol pode enxergar nada se vê. Alto mar, nenhuma terra à vista. Temperaturas altas e baixas, instabilidades. Racionalizações infundadas, ideias inquietantes e interdições limitantes, buraco negro. Daqui ninguém passa. Há algo que se reserva e que não se pode acessar. Um vazio incrivelmente frágil e delicado. É preciso poupar, desacelerar, caminhar devagar, olhar para um lado e para o outro, com muito cuidado antes de atravessar. Atenção, muita atenção, falta ar e o espírito de uma nova era parece pronto para entrar, ou não.
Muito boa resenha do que vivemos, Angela. Curta e incisiva com umas metáforas legais. O meu textinho também passa a mesma mensagem mas gosto muito mais do seu!
ResponderExcluirMetáforas muito bem construídas mesmo! Adorei. Uma resenha bastante exata desse tempo. Queria usar seu texto como minha mensagem de "Boas Festas"!
ResponderExcluirSim, parece não haver espaço para reconciliações poéticas. Mas eu ainda acredito na poesia como uma garrafa de náufrago.Talvez uma ingênua esperança.
Vaneska
Palavras contundentes para descrever um sentimento de bode geral e o ar sufocante que paira sobre nossas cabeças. Ao mesmo tempo, a possibilidade de uma saída via poesia e/ou filosofia. Beleza de texto.
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