DARLENE
Victoria Wilson Não sei quando foi que me embruteci. É sábado de manhã. Lavo minhas roupas íntimas no tanque. E é isso que me dá o sentido da vida. Foi sempre assim, desde que me casei. Toda vez que acontecia algo importante ou o tédio tomava conta de mim, ia pro tanque e lá lavava roupas, sonhos e talvez mágoas. Mágoas, não. Hoje sei que eram raivas, muita raiva, ódio, às vezes. Um rancor enorme, sem fim. Logo eu? Tão meiga e cordata? Como poderia guardar tanto rancor assim? Tudo começou naquele dia. Era um verão escaldante, meus pés inchados de tanto andar, carregando peso. Aliás, tarefa à qual fui me submetendo no decorrer dos anos. Carregar peso pra cima e pra baixo. Isso me aliviava de certa forma, de algo desconhecido para mim até então. Só fui saber mais tarde, muito mais tarde. Carregava peso pelas ruas, então, a pé. Sequer pegava um ônibus ou táxi. Táxi, então, nem pensar? Como gastar dinheiro com táxi? Várias sacolas penduradas pelos braços, antebraço; as marcas vermelhas, ro...