FINAL DE SEMANA
Eliana Gesteira
Saí distraída pela rua vestindo um
vestido verde esmaecido como aquele dia de tempo ruim. Queria ver agitação, mas o céu pesado e cor de chumbo trouxe a paz de
ruas vazias. Da multidão, que normalmente descia em direção à
praça nas manhãs de domingos, restaram vendedores desconsolados.
Para
mim o dia estava perfeito, mas um chuvisco começou a cair e tive que procurar abrigo, praguejando por sair desprevenida. Cruzei guarda-chuvas apressados e me protegi embaixo de uma marquise. Em dez minutos estava de volta à rua. No
caminho olhei vitrines.
Diante
do espelho de uma delas vi olhos famintos. Sem pudor, chorei. Queria mesmo era ter meus vinte anos de
volta, ser senhora de mim sem ser e vaguear entre desejos e
conquistas banais. A vida, no entanto, me reservou o menu de sempre -
rugas, dores e solidão.
Encontrei
um conhecido, ele me falou algo e
eu respondi “Sei não”. Uma música suave chegou de um
apartamento uns dois andares acima e eu ali, sem saber de mim, lhe
disse coisas bonitas e sonoras que, tomara, o tenha acompanhado pelo
resto do dia. Olhei ao longe e vi bocas abrindo e fechando sem sons e
pensei em voz alta “Tantas são as palavras que não chegam a
mim...” Um cheiro de café me trouxe de volta e me despedi.
Olhei
para um lado, olhei para outro, atravessei a rua e entrei na padaria.
Uma onda de calor de corpos aglomerados em torno do balcão me envolveu. Resolvi sentar, pedir uma média com pão e manteiga e
esperar a chuva passar novamente. Decorrido um tempo, uma vontade
louca de fumar me tomou de assalto, mas sabendo que os malditos em
volta me comeriam com olhos, desisti.
Era
domingo, queria fazer algo inútil até a exaustão, talvez beber muito, não pensar.
Em
vez disso, voltei para casa.
Chegando, fui recebida por quatro
patinhas que se moviam de um lado para outro numa correria louca que
só pararam quando estendi a mão para fazer um carinho. Olhos felizes me diziam que eu era amada, muito amada, e sorri.
Como disse o Xico Sá... "o domingo não dão dá folga aos corações...é dia de ferida aberta". O texto é simples e ao mesmo tempo denso como um domingo cinza.
ResponderExcluirVaneska