O BRILHO DA ROSA
Jurandir de Oliveira
Foi nosso grande poeta Vinicius de Morais quem melhor definiu o que é um auto engano quando criou aquela famosa frase, carregada de cínico pragmatismo: "Que o amor seja eterno enquanto dure"! Isto porque a única maneira de viver um amor é vivendo-o intensamente, sem pensar que ele pode terminar ao virarmos a primeira esquina. Mas quase nunca perdemos a noção total da realidade, apenas nos deixamos embriagar por uma doce ilusão que, ao final de contas, faz bem para a pele e para a alma. Deliberadamente nos auto enganamos.
Recentemente, quando indaguei sobre a tal mulher que, segundo uns amigos, já havia morrido, me contaram uma história. -Rosa? Ah...Rosa era super legal. Pena que você não a conheceu! Era dessas mulheres alegres que chegam à terceira idade cheias de juventude, animadas, festeiras. Conheceu um rapaz que era bem mais jovem que ela. Os dois pareciam feitos um para o outro, todos percebiam a adoração de Antônio quando estavam juntos. E Rosa, ainda viçosa, ainda ficou mais bonita, alimentada pela energia juvenil. Saiam para dançar e eram os que mais animavam o salão, Faziam esportes, corriam todas as manhãs, na praia estavam sempre juntos, Rosa acompanhava de perto o seu Toninho enquanto ele estava com a turminha do volei.
Era notória a felicidade dos dois. Porém, o tempo foi passando e os anos são cruéis, Rosa foi envelhecendo. Toninho também. Já não era o garoto de antes mas um homem feito, com o charme que a idade traz para alguns tipos. Já Rosa, começou a sofrer um ou outro problema de saúde. Toninho estava ao lado dela, acompanhava-a nas visitas ao médico, nas terapias. Via-se a dedicação do amigo, do companheiro, mas o sorriso amplo e o brilho nos olhos foi desaparecendo aos poucos quando falava de Rosa. Mais alguns anos passaram e estourou a bomba, Toninho conheceu outra mulher e terminou tudo com a parceira. A mulher que Toninho conheceu era a Rosa de anos atrás, alegre, esportiva, pé de valsa, só que agora ela e Toninho tinham a mesma idade. Faziam o casal perfeito até nisso. Acho que foi o que mais doeu em Rosa, ver-se refletida na outra, e ter sido incapaz de parar o tempo.
Inebriada de amor nunca pensou naquela frase do Vinicius, nem perscrutou o triste final que podia ter a sua história, porque para arrematar, a outra deu a Toninho um filho. Então Rosa se afastou de todos, começou a sofrer de depressão, já não saia para nenhum lado. Pouco a pouco foi ficando esquecida até pelos amigos.
A lembrança que guardo é daquela Rosa festeira, alegre. A outra Rosa amargurada e murcha pouco conheci.
Ah o amor, campo vasto para o autoengano. Como disse o Quintana, "a gente inventa as coisas que ama". Cada amor traz suas discrepâncias. Você escolheu contar a história de uma das mais controversas - a diferença de idade cronológica. Será que esse tipo de história só é possível com autoengano? Prefiro acreditar que não só essas.
ResponderExcluirQuando você escreveu "só que agora ela e Toninho tinham a mesma idade", eu me perguntei: será que faltou um NÂO aqui? Acho que não. Você abandonou a abordagem cronológica. Creio que estava falando exatamente isso: eles se alcançaram. Não foi a diferença que os separou.
Feliz pelo seu retorno, Jurandir!
Vaneska
Pois é, o Vinicius talvez nunca tenha se autoenganado, partia para outra logo que a paixão diminuia. Artista vive da emoção e "com emoção". A maioria dos mortais se limita as emoções do jipe nas dunas do Nordeste, quero dizer, vai e volta, negocia, faz trapaças consigo mesmo, se aquieta. Acho que você foi rigoroso com Rosa, pobre mortal, o amor é assim mesmo. Certo, o pior cego é o que não quer ver e talvez os mais velhos sofram mais da vista. Mas a verdade é dura, interfere no momento. Deixamos ela pra lá.Interessante a ótica. O óbvio nem sempre é ululante.Volte sempre!
ResponderExcluirM. Júlia
Jurandir, bem vindo de volta à Roda!
ResponderExcluirA estória da Rosa me comoveu muito, foi o texto mais triste dessa rodada, estória de final infeliz! Um auto engano fatal! Um sentimento de quem semeou vento e que agora só colhe tempestade! Quando é assim não tem jeito. Muito, muito triste.
Na verdade me limitei nesse texto em contar uma história que realmente escutei e me deixou muito pensativo e triste. Não fui cruel com a Rosa, a vida foi cruel com ela. Refletindo sobre a diferença de idade, acho que sim é possivel quando uma relação esta baseada mais no intelectual do que no vital.
ResponderExcluirNa verdade me limitei nesse texto em contar uma história que realmente escutei e me deixou muito pensativo e triste. Não fui cruel com a Rosa, a vida foi cruel com ela. Refletindo sobre a diferença de idade, acho que sim é possivel quando uma relação esta baseada mais no intelectual do que no vital.
ResponderExcluirObrigado pelas boas vindas!!!
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