DOMINGO NO PARQUE
Leny Fontenelle
Feitas essas considerações, retrocedamos aos tempos do Tivoli da sua infância. Foi lá que seu pai protagonizou cenas inesquecíveis, das quais foi testemunha ocular.
Seu progenitor ali, naquele momento, deu-se conta de não ter trazido consigo seus óculos de grau, o que, sem dúvida, dificultaria sua mira.
Grande susto, muito sangue, sinceros pedidos de desculpa e um dedo envolvido em um imenso curativo.
Um misto de ansiedade,
perplexidade e também de constrangimento. Assim foi uma de suas idas ao
antigo Tivoli Parque, situado às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, acompanhada
por seu pai.
Sempre fora um pouco medrosa em relação a certo tipo de
diversão. Altura, velocidade...nada disso a atraía de forma particularmente
prazerosa.
Em um passado bem mais recente, conduzindo os filhos
pequenos nos inúmeros parques aquáticos, montanhas russas e simuladores “da
vida”, a sensação dos tempos de infância ainda a perseguia e dividida ela
ficava entre o prazer da companhia deles, divertidos e encantados e a tensão de
encarar aqueles desafios.
Feitas essas considerações, retrocedamos aos tempos do Tivoli da sua infância. Foi lá que seu pai protagonizou cenas inesquecíveis, das quais foi testemunha ocular.
Andar de carrinho “bate-bate” pode ser uma experiência
divertida para a maioria das crianças. Mas ter como parceiro de aventura um
adulto de compleição grande e encorpada que sequer sabe regular o cinto de
segurança para adequá-lo ao seu tamanho, afivelando-o ao pescoço (e quase
provocando um auto-enforcamento) e que sai desgovernado, pisando como um louco
no acelerador, confessando, posteriormente, ter pensado tratar-se do freio,
foi, sem dúvida, traumática.
O sinal sonoro do brinquedo soou e para seu alívio,
interrompeu a torturante peripécia, mas ela não teve tempo para recuperar o
fôlego.
Desejosa de ganhar
um ursinho de pelúcia como o brinde que seria, talvez, uma compensação
pelos momentos de tensão que acabara de experimentar, dirigiram-se, ela e o
pai, à tenda do “tiro ao alvo”.
Seu progenitor ali, naquele momento, deu-se conta de não ter trazido consigo seus óculos de grau, o que, sem dúvida, dificultaria sua mira.
Mesmo assim, receoso por desapontar a amada filha,
resolveu prosseguir no desafio. Arma em punho e o alvo à sua frente que teimava
em sumir e reaparecer no seu débil campo visual. Eis que um cidadão se
aproxima, posicionando-se ao seu lado e pergunta ao funcionário que estava
dentro do balcão em qual dos alvos poderia atirar.
Solícito, o incauto empregado aponta em certa direção e
precisamente nesse momento seu dedo indicador é varado pelo chumbinho disparado
pela arma do “papai sniper”.
Grande susto, muito sangue, sinceros pedidos de desculpa e um dedo envolvido em um imenso curativo.
Era hora de ir embora. Sem o bicho de pelúcia. O almejado
ursinho ficou à espera na prateleira por um futuro tiro mais certeiro.
O texto mostra uma menina que se frustra com um passeio e, ao mesmo tempo, uma mulher cheia de ternura por um pai desajeitado e cheio de vontade de agradar sua "amada filha"/ o texto tem encanto e bom humor/ mas, talvez, ficasse melhor se fosse mais enxuto/ ex: …Tivoli Parque, na Lagoa/ em lugar de "...situado as margens…"/
ResponderExcluirLia Cora
Impressões bem humoradas da filha acompanhando o pai ao parque. Também fiz isso com meu pai, ele se divertiu mais do que eu!
ResponderExcluirMaria Júlia
O tom irônico não disfarça a ternura envolvida no contar essa história.
ResponderExcluirAo contrário da Lia Cora, não achei desnecessária a explicação sobre a localização do Tivoli, que só é "lugar comum" para os moradores do Rio, e assim mesmo só entre os que viveram suas infâncias entre as décadas de 70 e 80, creio eu rs.
O texto é leve, delicado, melancólico e divertido na medida certa.
Vaneska
Lembro-me bem do Tívoli, saudoso Tívoli. E, míope, me vi sem óculos tentando acertar rs. A cena se passa na nossa frente, muito bem escrito. Julia.
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ResponderExcluirO comentário anterior foi excluído por estar incompleto.
ResponderExcluirRelato interessante de memórias da infância. Talvez fosse melhor substituir expressões, como: progenitor, amada filha, incauto empregado, almejado ursinho, por outras mais atuais. Sonia Andrade
Muito bom o texto! Um dos meus sonhos quando criança era brincar de tiro ao alvo, ainda bem que mamãe nunca deixou, pois sou desajeitada para tal, rs! Abraços aos queridos escrivinhadores!
ResponderExcluirDei boas gargalhadas! Muito bom o texto, especialmente quando cria a tensão para riso com o dedo esfolado do papai trapalhão. Gostei muito.
ResponderExcluir"Domingo no parque" me trouxe agradáveis lembranças. O texto ligou o botão da memória para uma experiência que sempre me trouxe um misto de sensações: alegria, diversão, ansiedade, gargalhadas, constrangimento, prazer, aventura, velocidade...
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