A MÃO DE DEUS
Jurandir de Oliveira
A translúcida folha flutua no lago bailando uma canção para a lua.
Flutua…e a brisa caprichosa, encrespa suas bordas tênues. A folha rodopia e todo o bosque parece envolvido nesse tema. De repente, pequenas gotas de chuva tornam o baile mais intenso. E o reflexo da lua se contorce por instantes, para logo voltar à sua forma original. Uma formiga, ilhada, mas sem sequer mudar de ritmo, se move na direção de outra folha, quando essas se tocam pelo efeito da brisa. Parece adivinhar cada passo do universo. Menos o do homem que, interpondo um dedo entre uma folha e outra, a faz mergulhar na escuridão do lago. Na luta da formiga por sobreviver, esperneia, buscando alguma folha onde agarrar-se, enquanto o homem divertido, a vê afundar pouco a pouco.
Bonito e poético o bosque chuvoso, enluarado e rodopiante. Também a trajetória cega e certeira da formiga e seu encontro com o Grande Predador. E a mão de Deus que criou tudo isso em seis dias.
ResponderExcluirMaria Júlia
Ao nos fazer cúmplices desse gesto banal e trágico, o autor nos leva a perceber que a vida nos presenteia com a beleza, mas também nos fez frágeis e mortais.
ResponderExcluirUma pérola, esse texto. Se fosse uma foto, teria uma luz linda, com focos direcionados. Poderia também ser uma trilha sonora: notas cristalinas, travessas, nervosas e, finalmente, um gongo, que vai suavizando até parar de vez!
ResponderExcluirLi, vi , ouvi, esse texto. Parabéns! inspirou-me
Lia Cora
Um poema, uma visão. Um lago de águas cristalinas prateadas pela luz do luar! Uma dança entre a brisa e as gotas da chuva! Uma calma que só a natureza inspira. Mas aí vem o homem, afunda a formiga e ainda se diverte! Surpreendente o final! Adorei!
ResponderExcluirA mão de Deus seria a mão do homem, traduzindo a soberania sobre a vida de nós pequenos e mortais.
ResponderExcluirUm texto poético belíssimo.
Texto minimalista e poético. Mas, como disse a Jerusa, está mais para mão do homem do que para a mão de Deus.
ResponderExcluir