A DESEQUILIBRISTA
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
O Haver
Vinicius de Moraes
Conselhos, forças, ameaças. O que o
mundo espera da gente é equilíbrio. Em nome de uma vida mais serena, uma boa
dose de sensatez, relações harmoniosas, paz de espírito. Desafortunadamente o
que tenho a oferecer ao mundo é minha infinita incapacidade de me meter em medidas,
encaixar em padrões, me aprisionar em parâmetros.
Equilíbrio pressupõe um sistema de
forças que se compensam e se anulam reciprocamente. Não vejo como isso possa
ser algo sempre bom. Nesse constante anular-se, gente como eu só vê um vazio
enorme. Falta-nos o discernimento para entender sua grandeza, qualquer que
seja.
Equilíbrio também é estado daquilo que
se mantém sem alterações, constante. Nada mais assustador para almas inquietas.
Onde muitos veem estabilidade, só enxergo uma linearidade cheia de tédio. Onde
tantos outros plantam bandeiras de preservação, me apavoro diante da
imobilidade.
Talvez sejam induções muito simplistas e
rasas. Talvez sejam só justificativas diante da impossibilidade de ficar de pé
num mundo que não para de nos chacoalhar. Talvez seja medo de não encontrar
respostas.
É certo que busco aquelas coisas que,
dizem, só o equilíbrio pode dar: estabilidade mental, prudência, moderação,
comedimento, autodomínio. Mas a verdade é que me falta talento para me manter
ereta e elegante, me equilibrando no fio da navalha.
Onde estão a régua, a balança, o
compasso, a medida certa do equilíbrio? Onde está minha vara de equilibrista?
Meu centro de gravidade? Possivelmente
muito longe do lugar em que guardo minha ousadia.
Não há como ousar sem perder o
equilíbrio. Não há como não ousar e não se perder.
Vaneska M.
Interessante seu ponto de vista e suas reflexões.
ResponderExcluirVejo o equilíbrio como a flexibilidade de manter o centro apesar das turbulências. Pra mim, equilíbrio é oposto de tédio. É a paz de dançarina que rodopia graciosamente em meio a uma tempestade.
Vaneska você é exímia em exprimir as contradições e os quiproquos do existir. "Ficar de pé num mundo que não cessa de nos chacoalhar". como você colocou, para mim é essencial, mas difícil, muito difícil.
ResponderExcluirM. Júlia
"Onde estão a régua, a balança, o compasso, a medida certa do equilíbrio?" Resposta que vale um trilhão de Libras, ou melhor, que nenhum dinheiro pode pagar. Equilíbrio e desequilíbrio impulsionam o universo, mas no plano humano é tropeço após tropeço junto ao abismo. Parabéns pelo instigante (odeio essa palavra, mas vá lá) texto.
ResponderExcluir"Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto". É tudo que nos resta, esse constante esforço de partir para não naufragar... "esse eterno levantar-se depois de cada queda" e aprender que este navegar nem sempre terá os ventos a favor. Reconhecer que estamos sem bússola a nos nortear, mas lembrar de que é preciso partir, que não há como parar. "O que o mundo espera da gente é equilíbrio e nada mais assustador para almas inquietas". Admitir que, de fato, permanece o medo do que não reconheço. Socorro! "Onde está minha vara de equilibrista?"... Penso que nossos textos poderiam andar de mãos dadas, Vaneska, tive vontade de entrelaça-los, me identifiquei muito com a sua alma inquieta.
ResponderExcluirOi Vaneska, achei muito interessante como nossos textos e também o da Angela são afins e passam uma ideia parecida.
ResponderExcluirA conversa está ótima!