CHAPEUZINHO DE LINHA

Lidia 

Detesto, às vezes, ter que ir à rua/ preferia ficar e resolver o problema dessa impressora, que já me fez perder tanto tempo/
estou sozinha em casa e gosto de ficar em casa quando está tudo silencioso/
Vá lá que seja! 

quando passei em frente ao jornaleiro, tive certeza de que minha cabeça está tumultuada mesmo/ li na manchete "navalhada no cenário"/ olhei melhor e estava escrito "maravilha de cenário", com referência à música da Império Serrano/

É, tá feia a coisa! /

Segui em frente, direto ao banco, chateada por ter que pagar duas contas, com dinheiro emprestado do próprio banco (cheque especial) / detesto dívidas! /
no caminho, bem ao lado do ponto de ônibus, na Voluntários da Pátria, em frente à uma agencia bancária, vejo a cena:


o mendigo atravessado "béim" no meio do caminho, dormindo com a boca aberta, braços abertos e...braguilha aberta! / o passarinho em pleno voo, formando um angulo, absolutamente reto, em relação à barriga do tal / na pontinha, um bolinho de linha, que deve ter soltado do tecido da calça esfarrapenta/

e o "bichin" estava ali, glorioso, com aquele chapeuzinho de linha, olhando curioso para os passantes/

O difícil foi conseguir fazer uma cara, de quem não reparou no impossível de não reparar!/ mas segui, impávida, para o banco/ 

quando saí, fui pela outra calçada, para ver de longe como estavam as coisas/ olhei e lá estavam três rapazes, tipo humildes, tentando acordar o homem, com pequenos chutes/ deviam estar envergonhados e queriam logo resolver a situação/ a calçada, naquele pedaço, normalmente bastante movimentada, estava "estranhamente" vazia, embora fosse ao lado de um ponto de ônibus super concorrido/E só fiquei sabendo até aí/ 
Conclusão:
Saí sem vontade mas foi bom - consegui escrever! 


Comentários

  1. Olhar agudo, voltado e focado no cotidiano, nas cenas de rua, nos personagens anônimos que no seu ir e ver, você consegue transformar em personagem de crônica.
    Muito interessante essa perspectiva.

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  2. Obrigada pelo comentário (não sei quem foi)/ realmente eu gosto muito do cotidiano e sua magia meio camuflada/

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  3. LiaCora continua a flanar pela cidade, nos trazendo o inusitado, o escondido de olhos cansados de tanto ver. Ah, Lia, você me fez corar como uma velhinha pudica…! Vê se baudelaires mais por aqui.

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  4. e vc me fez rir muito com seu comentario/ Baudelaire-flanar/Cora-corar/
    adorei/ bj
    Lidia (liacora)

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  5. O título já me despertou interesse...mas que diabos seria o bendito "chapeuzinho de linha" rs? Não, não era literatura infantil, era crônica do cotidiano das boas! Achei muito interessante o uso de termos não coloquiais como "béim", "bichin"...deu uma bossa muito divertida ao texto!
    Vaneska

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