O MAL AMADO
Sonia Andrade
A noite quente, sem brisa
para amenizar o calor, era um convite ao ar condicionado. Depois de um dia
inteiro de visita aos pontos turísticos da cidade, seria preciso desfrutar de
uma noite tranquila na temperatura amena, climatizada.
Exaustos, dormimos
profundamente, alheios aos ruídos externos. Acordamos tarde, de olho no
relógio, a tempo de não perder o café da manhã, um dos pontos fortes do hotel. Tudo
parecia igual ao dia anterior, até o momento em que olhei pela janela e percebi algo estranho.
-- O que está acontecendo
aqui?
-- O quê?- ele perguntou,
tentando entender a pergunta.
-- Parece incêndio. Tem uma
escada de bombeiros encostada à parede
do hotel – esclareci.
Ele pareceu não acreditar. Como
já diziam os antigos, onde há fumaça, há fogo. E não havia sinal de fogo por
perto. Saímos do quarto e, no corredor, encontrei vários bombeiros rindo,
animadamente. A causa da visita, seja lá qual fosse, já tinha acabado e eles
estavam de saída.
-- O que aconteceu? – perguntei.
-- Nada --responderam
evasivamente, se apressando em sair.
No caminho para a sala de
café, uma camareira me abordou, ansiosa para fofocar:
-- Imagine só. Um empregado
do hotel tentou se jogar da janela do quinto andar - ela disse.
-- Por que?- perguntei.
-- Dizem que o motivo foi
desilusão amorosa- esclareceu.
-- Como assim?
-- O rapaz perdeu a cabeça
por causa de um amor.
-- Deus me livre de um amor
desses que mata – pensei.
-- Queria por fim à vida, de
forma dramática- continuou. -- Quem sabe assim conseguiria chamar a atenção da
amada -- concluiu, me deixando com um ar perplexo.
O que ele conseguiu, na
verdade, foi ser o assunto do dia, para hóspedes e empregados do hotel. Alguns até
achando graça na história. Passada a emoção do momento, imagino que ele também pode achar graça ao se lembrar
da performance dos bombeiros e de como tudo acabou bem. O problema maior
foi para alguns hóspedes que tiveram que retardar a saída para evitar aparar
com a cabeça a queda do mal-amado.
Estilo muito fluente e gostoso de ler, permeado de um leve e sutil senso de humor ao redor da tragédia que perturbou o dia dia dos turistaS acidentais. "Morreu na contramão atrapalhando o tráfego."
ResponderExcluirConcordo totalmente com o comentário acima/ li o texto como se estivesse num escorrega tipo saca-rolha > entrou - não pode mais sair / e a chegada não é abrupta/ é suave e divertida/
ResponderExcluirEste é o 2o comentário que escrevo / o 1o, o Google sumiu com ele /