A PRIMEIRA VEZ DE ANGÉLICA
Eliana Gesteira
“...a imaginação só se aquece quando desprezamos os preconceitos”
“Todas as fantasias se encontram na natureza. Criando os homens, ela fez o gosto de cada um tão diverso quanto o rosto”.
(Marquês de Sade)
Angélica não parecia andar. Flutuava. Seus pés batiam de leve o chão e faziam um barulho, toc toc toc toc, como se marcassem o compasso do coração. O dia estava nascendo e ipês roxos enchiam de buquês a calçada. Uma brisa fresca acariciava a penugem fina de seu braço, prolongando na pele a sensação vivida entre lençóis de seda por toda a madrugada.
Aquela noite havia começado na boate “La Petite Chatte” por sugestão do namorado, que pediu de presente uma ménage à trois, especialidade da casa. Tal pedido fez Angélica reagir, a princípio, com desconfiança ao pensar que ficaria no papel de voyeur, caso Leonardo se interessasse mais pela convidada do que por ela; mas também com um certo frisson logo que se imaginou personagem de experiência tão ousada. Após algumas danças e flertes, uma gata de cabelos coloridos foi escolhida e os três saíram juntos para o hotel.
Já no quarto, a mulher chamada Leila, tranquilizou Angélica dizendo que não precisaria ter ciúmes e que aproveitasse o momento, porque tudo aconteceria da maneira combinada pelos três. Finalizando o contato prévio, Leila estabeleceu suas condições. Sexo oral e masturbação, sim; penetração não, e foi se trocar. Os namorados, um pouco aturdidos pela abordagem didática e direta da moça, também foram mudar de roupa.
Passados alguns minutos, Leonardo, mal se aguentando, colocou uma música para tocar e preparou um drink, bebido de uma só vez. Felizmente, para ele, sua namorada apareceu logo. Portava um conjunto de calcinha e sutiã combinando, gestos contidos e um sorriso mal esboçado. Leila fez sua entrada a seguir. Vestia lingerie preta de renda, meias finas e escarpins também pretos, que se moviam conforme o serpentear de pernas lisas e bem torneadas.
Devagar, num balé ensaiado como espontâneo, pegou cada um pelas mãos e trouxe-os para junto do corpo para partilharem carícias. Mais solta, a dançarina enfiou sem pestanejar a língua na boca de Angélica e segurou firme o pau de Leonardo, que saltou livre desejando a umidade de bocas e grutas. Alucinado, Leo suplicou por beijinhos e foi correspondido. Uma lambendo; a outra chupando, gozou.
Enquanto Leonardo se recuperava, Leila levou Angélica para a cama, dando-lhe beijos no pescoço, nos seios e na barriga. Já no leito, abriu-lhe as pernas para tratar como pétalas os grandes lábios, os quais lambeu em círculos tão leves como a pluma. Em seguida, dedos delicados começaram a passear por dentro da vagina, num vai e vem constante, ao mesmo tempo que lambidas quentes e molhadas perambulavam pelo clitóris, encantando-o.
Vendo o corpo de Angélica arquear, Leila puxou-lhes os cabelos para traz e caiu sobre seus seios macios, chupando cada um dos mamilos à medida que aumentava a velocidade dos dedos entre relevos e fendas. Angélica só conseguia dizer baixinho “vou morrer...vou morrer”, mas subitamente explodiu em lágrimas, num êxtase jamais experimentado.
Ainda deitada, Angélica virou-se de lado. Procurava Leonardo, de quem somente se lembrara naquele instante. Sua face, que resplandecia prazer e alegria, crispou-se ao encontrar olhos raivosos que giravam entre as paredes e os corpos nus abandonados.
Descoberto, Leonardo baixou os olhos e, andando pra lá e pra cá, recolheu suas roupas espalhadas pelo chão. Calado, vestiu-se. Mas ao tropeçar nas próprias calças, parou e olhou para o alto como a procurar um ponto perdido no teto. Ainda em silêncio dirigiu-se a porta, mas antes de abri-la disse afinal:
- Bem que percebi que odiava homens!
- Não, não odeio não! Só não quero mais nenhum na minha cama – respondeu Angélica, que beijou Leila longamente.
“...a imaginação só se aquece quando desprezamos os preconceitos”
“Todas as fantasias se encontram na natureza. Criando os homens, ela fez o gosto de cada um tão diverso quanto o rosto”.
(Marquês de Sade)
Angélica não parecia andar. Flutuava. Seus pés batiam de leve o chão e faziam um barulho, toc toc toc toc, como se marcassem o compasso do coração. O dia estava nascendo e ipês roxos enchiam de buquês a calçada. Uma brisa fresca acariciava a penugem fina de seu braço, prolongando na pele a sensação vivida entre lençóis de seda por toda a madrugada.
Aquela noite havia começado na boate “La Petite Chatte” por sugestão do namorado, que pediu de presente uma ménage à trois, especialidade da casa. Tal pedido fez Angélica reagir, a princípio, com desconfiança ao pensar que ficaria no papel de voyeur, caso Leonardo se interessasse mais pela convidada do que por ela; mas também com um certo frisson logo que se imaginou personagem de experiência tão ousada. Após algumas danças e flertes, uma gata de cabelos coloridos foi escolhida e os três saíram juntos para o hotel.
Já no quarto, a mulher chamada Leila, tranquilizou Angélica dizendo que não precisaria ter ciúmes e que aproveitasse o momento, porque tudo aconteceria da maneira combinada pelos três. Finalizando o contato prévio, Leila estabeleceu suas condições. Sexo oral e masturbação, sim; penetração não, e foi se trocar. Os namorados, um pouco aturdidos pela abordagem didática e direta da moça, também foram mudar de roupa.
Passados alguns minutos, Leonardo, mal se aguentando, colocou uma música para tocar e preparou um drink, bebido de uma só vez. Felizmente, para ele, sua namorada apareceu logo. Portava um conjunto de calcinha e sutiã combinando, gestos contidos e um sorriso mal esboçado. Leila fez sua entrada a seguir. Vestia lingerie preta de renda, meias finas e escarpins também pretos, que se moviam conforme o serpentear de pernas lisas e bem torneadas.
Devagar, num balé ensaiado como espontâneo, pegou cada um pelas mãos e trouxe-os para junto do corpo para partilharem carícias. Mais solta, a dançarina enfiou sem pestanejar a língua na boca de Angélica e segurou firme o pau de Leonardo, que saltou livre desejando a umidade de bocas e grutas. Alucinado, Leo suplicou por beijinhos e foi correspondido. Uma lambendo; a outra chupando, gozou.
Enquanto Leonardo se recuperava, Leila levou Angélica para a cama, dando-lhe beijos no pescoço, nos seios e na barriga. Já no leito, abriu-lhe as pernas para tratar como pétalas os grandes lábios, os quais lambeu em círculos tão leves como a pluma. Em seguida, dedos delicados começaram a passear por dentro da vagina, num vai e vem constante, ao mesmo tempo que lambidas quentes e molhadas perambulavam pelo clitóris, encantando-o.
Vendo o corpo de Angélica arquear, Leila puxou-lhes os cabelos para traz e caiu sobre seus seios macios, chupando cada um dos mamilos à medida que aumentava a velocidade dos dedos entre relevos e fendas. Angélica só conseguia dizer baixinho “vou morrer...vou morrer”, mas subitamente explodiu em lágrimas, num êxtase jamais experimentado.
Ainda deitada, Angélica virou-se de lado. Procurava Leonardo, de quem somente se lembrara naquele instante. Sua face, que resplandecia prazer e alegria, crispou-se ao encontrar olhos raivosos que giravam entre as paredes e os corpos nus abandonados.
Descoberto, Leonardo baixou os olhos e, andando pra lá e pra cá, recolheu suas roupas espalhadas pelo chão. Calado, vestiu-se. Mas ao tropeçar nas próprias calças, parou e olhou para o alto como a procurar um ponto perdido no teto. Ainda em silêncio dirigiu-se a porta, mas antes de abri-la disse afinal:
- Bem que percebi que odiava homens!
- Não, não odeio não! Só não quero mais nenhum na minha cama – respondeu Angélica, que beijou Leila longamente.
Maravilhoso texto! E que desfecho genial!
ResponderExcluirObrigada, Mônica. Estava com um pouco de receio da acolhida. Minha intensão com esse conto foi continuar a explorar as singularidades do universo feminino, agora com o sexo.
ResponderExcluirEliana
Muito bem-sucedida na intenção, menina! Parabéns!
ExcluirTexto puramente pós-moderno. Disse e repito: adorei o final. Direto e objetivo como as relações desse mundo líquido moderno. Parabéns!
ResponderExcluirJá me disseram que um final aberto seria mais interessante. Mas o texto tem uma pegada "política", embora possa servir como diversão. De certa forma defende um amor livre do peso da tradição e do preconceito e que possa fluir sem a solidez do controle de corpos, principalmente o feminino.
ResponderExcluirEliana, você sempre versátil, com uns finais repentinos e inesperados, surprendeu!
ResponderExcluirM.Júlia
Uau! Texto surpreendente do começo ao fim, muito bem escrito, prende o leitor! Conteúdo atual muito bem narrado nos seus pequenos detalhes. Parabéns!
ResponderExcluirNão devia haver receio nenhum! Muito bacana finalmente essa temática entrar na Roda. Pra além da sensualidade do texto, acho que li perfeitamente seu viés político, os estereótipos de gênero esbofeteados pelo desfecho. Adorei!
ResponderExcluirVaneska
Lili parabéns pelo lindo texto, uma leitura fácil e muito interessante com riqueza de detalhes que prendem a atenção do leitor...mais uma vez parabéns!!!!!
ResponderExcluirLindo texto,querida!
ResponderExcluirO leitor fica "preso" pelas belas imagens descortinadas como se estivesse sentado na poltrona de uma sala de cinema!