A PRIMEIRA VEZ QUE EU VI O MAR

Vaneska M.

A primeira vez que eu vi o mar, possivelmente não era a primeira vez. Mas não importa se era a terceira ou quarta, ou se era sexta feira. 

Lembro que o mar apareceu após uma curva - e o mundo todo desligou: o maldito rádio do carro que tocava umas músicas que me davam vontade de chorar, o barulho da criançada, os resmungos do meu pai, o mau humor da minha mãe. Todos emudecidos pelo mar, pelo mar que não tinha fim.

Passado o deslumbramento, procurei entender por que não parávamos logo ali e descíamos o morro para tomar banho de mar. Foi aí que meu pai explicou que aquele ainda não era o mar em que criança podia tomar banho. É que existia um outro mar, que era chamado “lagoa”, diferente daquele, que tinha ondas. 

Minha cabeça, livre como só a das crianças são, começou a ilustrar toda aquela explanação acerca do mar. Eram mares enfileirados, uns que eu só podia ver e outro em que eu poderia nadar. Que grande piada, eu nunca aprendi a nadar!

A partir daí, os grandes passeios da minha vida, passaram a ser as idas à praia. Praia cheia de conchas e de castelos, de baldinhos coloridos e forminhas de peixe. Praia filha do mar. Mar que vi banhar tanta gente e que num enorme dia de sol trouxe uma pessoa morta que meu pai não me deixou ver. Mar que aprendi a respeitar em sua fúria e amar incondicionalmente.

Hoje, tenho pelo mar e pelas coisas do mar um querer bandido. Não tenho na pele a cor das pessoas que podem se expor ao sol, e na água não tenho a agilidade dos que frequentaram aulas de natação. Mas tenho sentidos extremamente aguçados para as sensações que o mar traz.

Sensação de que a vida também segue em ondas. Do perigo de lançar-se à arrebentação. De que sempre haverá outra maré cheia, embora as baixas sejam implacáveis.

Acredito que se fecharmos os olhos ao sol, ouvindo os sons do mar, é possível ter quentes e reveladores pensamentos de luz. 

Se eu pudesse visitaria todos os dias o mar, como quem vai à igreja rezar. E talvez agradecer ao “santo protetor solar”.

Comentários

  1. Compartilhamos o mesmo amor pela praia. Vou compartilhar um poema que fiz para a minha preferida.

    Massambaba

    Saudade daquele mar
    Meu por direito
    Pois que a ele dediquei
    amor incondicional

    Como resistir ao azul
    dos seus olhos?
    E seus braços longos
    arenosos e febris

    Deitava-me no silêncio
    das ondas espumantes
    de seu desassossego
    Feliz!

    No inverno,
    seu humor acinzentado
    me arrepiava o corpo inteiro

    No verão,
    repousava alaranjado
    sobre minha pele quente

    Mas o tempo,
    implacável,
    passou por nós em cheio
    Levou minha inocência
    Tirou você de mim

    Hoje sonho
    Revivo os passos macios
    O vento aveludado
    E caminho por seus limites

    Atravesso ondas
    que quebram minhas memórias
    Estes doces e alvos grãos
    Areia que o tempo leva
    E traz de volta
    E leva outra vez

    A saudade é assim,
    nunca morre
    Vive quieta e serena
    dentro de mim

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  2. La mer. Feminino em francês. Nos trópicos é ele, grande, profundo, misterioso. Um senhor de respeito.
    Não se passa batido por ele.
    Para um suburbano é um acontecimento. Sentia-se que estava chegando já ao longe, cheiro de brisa. Agora não sinto mais. Que saudade boa de mim me trouxeram as memórias de Vaneska e o poema de Mônica.

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  3. " Sensação de que a vida também segue em ondas. Do perigo de lançar-se à arrebentação". Bem colocado e lindamente descrito o seu encontro com as águas, Vaneska.É doce (con)viver bo mar, nas ondas verdes do mar!
    M. Júlia

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  4. "Acredito que se fecharmos os olhos ao sol, ouvindo os sons do mar, é possível ter quentes e reveladores pensamentos de luz. Se eu pudesse visitaria todos os dias o mar, como quem vai à igreja rezar." Seus textos sempre poéticos... alto astral, belos... que lindo ... Parabéns, adorei!

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