EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS


Mônica Lobo (para Rubem Alves)

Veja que bela cabeleira dourada!
Isso aí não vale nada!
Como falar assim de um ipê?!
A vassoura não é por conta de você!
As flores caem, caminhamos sobre o sol!
Suas ideias são puro besteirol!
Não vê a alegria brotando destas cores?
Vejo é que divergimos em muitos valores



Você bebe tolices e poesias de canudo
Eu mastigo a realidade, vomito tudo
Nunca tive tempo a perder
Foi assim que aprendi a viver
Não vejo a hora de ver um progressista
Arrancar tudo isso da minha vista!


Minha alma celebra a doçura e a criatividade
Me entrego sem pressa ao prazer da alteridade
A poesia não tem lugar, tempo nem história
É um carinho atemporal feito na memória
Minha utopia é ter a senhora bem quista
Doar à sua face meus olhos de artista

Comentários

  1. Oi Monica, como vc sempre escreve poemas, estava bastante curiosa para ver o que vc ia fazer desta vez. Adorei o resultado, com poesia e poucas palavras consegue captar tão bem os dilemas do nosso mundo cotidiano: amar o belo e aparentemente inútil num mundo em que tudo tem que ter propósito, serviço e gerar riquezas materiais.

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    1. Carolina, não foi fácil! Fiquei sem ideias por muito tempo, até ler o livro do Rubem Alves e ele chamar atenção para a diferença da caixa de ferramentas e a caixa de brinquedos. Uma contém as coisas úteis, a outra as coisas "inúteis". Uma nos permite viver, a outro nos permite sonhar. :D
      Fiquei feliz com o resultado. A minha intenção foi trazer essa mensagem dele. :D

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  2. Também estava curiosa em saber como resolveria essa questão com o diálogo. Resolveu bem bonito. Acho que seu poema me fez ver ainda além. A caixa de ferramentas também pode permitir sonhar, basta um determinado olhar sobre ela. Assim ao olhar o ipê em flor podemos ou enxergar ou o trabalho de varrer flores ou um chão de sol pra caminhar. Aliás, lindo o verso "As flores caem, caminhamos sobre o sol".
    Vaneska

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  3. Entre o útil e o inútil; o pragmático e o sonhador; o conserto e o concerto. Caminhamos.
    Belíssimo diálogo, Mônica. Poesia. Sim. Sempre poesia.

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