MÃE

Jurandyr de Oliveira

Então ele a despertou gentilmente:


-Mãe, mãe, te amo muito minha mãe.

Já estou indo. E deu-lhe dois beijos nos cabelos brancos . Ela abriu os olhos e com uma expressão meio atordoada falou: Espera,...eu tenho que lhe falar algo.

-O que foi mãe ? Perguntou ele curioso, porque pressentiu que se tratava de um sonho.

-As crianças, onde estão as crianças?

-As crianças? Ele retrucou baixinho.

-Sim, as crianças... Nós não estamos juntos? 

Pouco a pouco ela percebeu a própria confusão. Talvez o tivesse confundido com seu pai...

-Mãe, fica com Deus. Eu estou voltando para o Panamá. Falou como tratando de situar-la um pouco.

-Ahhh filho, você esta voltando... E repetindo a frase que repetia sempre como se fosse ao menos uma certeza registrada na mente, a única ancora entre tantos fragmentos dispersos.

-Vem filho, ficar um tempo comigo!... Quando você volta?

Vai com Deus e não demore muito para voltar. Te amo muito!...

-Vai mãe, dorme, descansa que está tarde.

Ela fechou os olhos outra vez e pareceu dormir enquanto ele saía encostando a porta de seu quarto cuidadosamente.

Pensou naquele sonho: feliz que temos sempre direito a sonhar.


Os mistérios da mente talvez a levassem a uma época onde era ainda jovem com filhos pequenos. Talvez nos sonhos sua memória fosse perfeita. Nos labirintos da mente talvez fosse completamente feliz e caminhasse pela praia com as sua irmaēs como naquela foto antiga. Talvez ninasse algum dos seus filhos. Ou talvez no mundo dos sonhos em que tudo é permitido, os fragmentos da sua memória se juntassem e criassem uma nova realidade oniricamente maravilhosa . Ou entrando no campo metafísico talvez sua alma passeasse por outras dimensões, talvez recordasse outras vidas. 


Viajou de volta para o Panamá pensando em todas essas possibilidades que oscilavam para ele entre muito possíveis ou inverossímeis. O certo é que faltam muitos mistérios por descobrir, se não somos capazes de compreender a nós mesmos, a nossa mente, como pretender desvendar os segredos do universo?

Comentários

  1. Achei muito bonito, comovente o seu relato. Intimista mas verdadeiro e reconhecível. "Talvez nos sonhos a memória fosse perfeita". Gostei.
    P.S. Ah, tem uma duas palavras em espanhol, espero que vc.não se importe com m.observação.
    M.Júlia

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  2. Delicado e comovente. Gostei da estrutura apresentando inicialmente o diálogo entre mãe e filho, marcado por travessões e a passagem às reflexões bastante tocantes.
    Vaneska

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  3. Mães... Ah!a mães!Tema sempre rico com o qual todos nós nos identificamos! Memórias passadas e mistérios da mente humana! O que é sonho? O que é realidade? Compreensão de nós mesmos, compreensão dos mistérios do universo! Muitas perguntas e poucas respostas.

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  4. texto bastante melancólico/ tenta entender o que se passa no universo mental de sua mãe e conclui não ser possível/ questiona a intenção do Homem em decifrar o Cosmos, quando nem conhece os segredos da mente/
    Lidia

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