PARA ONDE IR?
Elisa Maria Rodrigues Sharland
Andava sempre sozinha já fazia muito tempo...
Não exatamente só: partilhava da companhia dos filhos, agora já adolescentes, dos amigos, colegas de trabalho, mas, no fundo sentia-se só.
_ Por quanto tempo mais terei que abraçar essa solidão? Perguntava-se Iolanda, constantemente, com maior frequência do que gostaria.
Por mais que tentasse encontrar explicação para esse estado da alma, não a achava.
Já havia buscado várias alternativas que pudessem aliviar esse sofrimento que cavava cada vez mais fundo em sua alma: terapias, florais, médicos (até um médico Ayurveda já havia consultado), reflexões, grupos de discussões, cursos em áreas diferentes daquela em que atuava profissionalmente), ..., mas nada parecia satisfazer àquele enorme buraco que existia em sua vida.
E assim, continuando sua caminhada solitária, em mais um dia de questionamentos e reflexões, Iolanda, quando se dirigia ao salão de beleza, se sentiu atraída pelos anúncios, descobertos em um jornal que era distribuído em uma loja de produtos naturais. Dentre os vários anúncios que continha o tal jornal, existia uma seção só de anúncios relativos à profissionais, terapeutas, videntes, e outros títulos, mas que traziam uma coisa em comum: prometiam revelar o que o futuro poderia trazer.
Entre as várias promessas que ali eram anunciadas, o anúncio que mais lhe chamou a atenção e, aquele que parecia mais atrativo, diante de seus questionamentos, objetivos e expectativas, era um onde uma Taróloga prometia “A adivinhação através do Tarô – descoberta dos segredos do inconsciente, dos poderes do indivíduo (inclusive aqueles sobrenaturais), e orientação para ‘as nossas vidas confusas’ “.
Isso calou fundo no coração de Iolanda. Ali estava o mapa do tesouro, tudo o que estava buscando, ao alcance de suas mãos (ou de seu coração), em um número de telefone, para marcar a CONSULTA, que representaria uma “quebra de paradigma” em sua vida, divagou ela.
No dia e horário marcado, lá estava ela, cheia de expectativas e ansiedade, parecia que o coração ia lhe saltar pela boca, e o lugar, tão diferente de sua realidade, lhe parecia um pouco estranho, mas, nada assustador. Firme em sua decisão, de buscar um novo caminho para sua vida, Iolanda tocou a campainha.
Logo alguém foi atender e, a porta, ao se abrir, mostrou uma mulher comum, como qualquer outra, e, num estremecimento pouco perceptível, Iolanda quase deixou um pensamento escapar-lhe pela boca:
_ Como uma mulher, tão igual a todas as outras, pode prometer tanto? Será ela realmente capaz de cumprir aquilo tudo?
Afinal de contas Iolanda estava entregando o seu futuro àquela mulher.
Já que estava ali, era pagar, literalmente, para ver.
Calmamente, a Taróloga iniciou a sessão, explicando a Iolanda tudo que seria feito e o que representava o “Jogo de Tarô” na vida de uma pessoa, percebendo toda a aflição e expectativa que transbordava das feições de sua consulente.
Tentando esconder toda a exaltação que saltava de sua alma, e a vontade de ultrapassar aquela parte das explicações, Iolanda aguardou mais um pouco, até tirar todas as cartas, conforme as orientações ali recebidas.
Logo em seguida, depois que a Taróloga havia arrumado todas as cartas, numa posição que, para ela não deveria fazer nenhuma diferença, começou a perguntar, olhando fixamente para a Taróloga:
_ Então, que caminho devo seguir?
_ O que vai acontecer em minha vida?
_ São boas as previsões?
_Terei mais tranquilidade e conseguirei realizar os meus sonhos?
Sem dar tempo à Taróloga para que esta pudesse, pelo menos, começar a interpretar o que aquele conjunto de cartas representava, continuou com suas perguntas...
_ Por favor, me diga alguma coisa que possa me mostrar: que caminho devo seguir?
De repente, a Taróloga interrompeu Iolanda, tentando chamá-la à realidade.
_ CALMA! Não é assim que funciona!
_ Aqui só posso lhe indicar as tendências e algumas coisas que podem acontecer. O caminho é seu e quem decidirá sobre o que fazer diante das situações que lhe aparecem é você mesma! NADA CAI DO CÉU!
Nesse momento, parece que aquelas palavras entraram pelo cérebro de Iolanda e, durante a consulta que, praticamente, não representava mais nada, ficaram martelando em sua cabeça:
Tendências...
Podem acontecer...
Caminho...
SEU!
VOCÊ MESMA!!!
Iolanda não sabe quanto tempo demorou a consulta e nem fez nenhuma pergunta mais. Ficou perdida em seus pensamentos e suas reflexões com aquelas últimas palavras que haviam se fixado em sua mente.
Só percebeu que havia acabado a sessão quando a Taróloga lhe perguntou se queria esclarecer alguma coisa, alguma dúvida ou se havia ainda alguma pergunta que ela gostaria de fazer.
Iolanda respondeu que não. Fez o pagamento da sessão e saiu, quase sem dizer mais nada.
Em seu caminho, voltando para casa, e refletindo sobre toda aquela situação que havia vivenciado, e, embora a princípio tivesse ficado bastante decepcionada com o destino não revelado em sua consulta, compreendeu que essa aventura a ajudou a melhorar o seu entendimento em relação à vida. E que, se por um lado, a consulta feita não tivesse lhe revelado o futuro e os belos acontecimentos desejados, por outro, havia lhe ensinando bastante sobre o SEU futuro.
E, seguindo em mais uma de suas antigas e constantes reflexões, concluiu que não há nada que possa transformar a vida, num passe de mágica. O que precisa, e que ela fará, é dar um passo depois de outro, no rumo que somente ela mesma poderá dar a sua vida, construindo o seu caminho, tijolo por tijolo, com atitude e determinação.
Assim, saiu Iolanda, com a firme determinação de mudar seu estado de alma, considerando que, pelo menos, para isso, a Taróloga serviu.
Há um quê de desilusão nessa mulher que expõe seus desassossegos diante da vida. Parece equilibrar-se entre a necessidade de exercer papéis sociais e a procura de um pouco de mágica ou de ilusão. Ao constatar que “nada cai do céu” e de que a taróloga era “uma mulher comum” seu eixo gira de volta à terra. Fiquei com vontade de conhecer um pouco mais sobre as contradições e fragilidades dessa personagem.
ResponderExcluirEliana Gesteira
Olá Eliane,
Excluiracredito que a maior fragilidade da personagem seja a busca de evidências (das quais a taróloga seria uma delas) que a impeça de sonhar ou de dar ao "destino" algum poder sobre sua vida.
Concordo um pouco com Eliana,vejo no personagem uma sastisfação em ter um certo controle sobre as coisas,ela tem uma atitude mais pragmática e estóica perante os fatos/a vida. Bom texto.
ResponderExcluirAcho que nossos textos possuem alguns pontos de convergência, um fio condutor parecido. Terceirizar escolhas em momentos difíceis, encontrar algo ou alguém que indique o caminho mais adequado a seguir nas crises...é realmente tentador. Gostei bastante da forma como contou e conduziu à história.
ResponderExcluirVaneska
Forma interessante de tratar o tema. Parece que a personagem principal é muito ansiosa e que a cartomante perdeu a paciência com ela. Acho que o mais comum é a cartomante adotar uma atitude maternal. Mas, as vezes, e bom ter um choque de realidade.
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